Sombras e Neon: Como a Arquitetura de John Wick 4 Eleva a Imersão e a Narrativa Visual

Nem só de cachorro, balas e vingança é construído o mundo de John Wick. Vocês já notaram a beleza poética dos cenários e a arquitetura? Eles criam uma estética que transformam cada frame em uma pintura neoclássica, contrapondo a freneticidade do embate entre os personagens. Mas por que essa arquitetura fez toda a diferença? Porque ela não apenas enquadra a ação, mas a amplifica, em forma de pedra, aço e luz, criando um magnetismo que nos prende do primeiro ao último tiro.

Continental de Nova York

“O coração do mundo dos assassinos” foi escolhido pela produção para residir em (Beaver Building, Edifício Flatiron construído em 1904 no estilo neoclássico). A arquitetura opulenta do Continental, com seu estilo art déco e renascentista, reflete o glamour do submundo. Foi inspirado em hotéis de luxo como o The Carlyle em Nova York, que têm uma aura de mistério e exclusividade, isso entrega um charme sóbrio e atemporal que reforça a narrativa do filme em relação ao refúgio perfeito de assassinos.

Baumschulenweg Crematorium

A escolha do Baumschulenweg Crematorium para as cenas do escritório do Marquês é propositalmente pensada para simbolizar o seu papel como um agente da destruição, alguém que controla a vida e a morte dentro do universo da Alta Mesa. A execução de Charon nesse espaço sublinha essa ideia.

O centro do crematório é um salão principal impressionante, descrita como uma “piazza coberta”, inspirada em mesquitas magrebinas e na arquitetura egípcia antiga. Colunas de concreto com “capitéis de luz” (aberturas que deixam a luz entrar de forma dramática) criam um espaço arquitetônico Brutalista que é ao mesmo tempo solene e etéreo.

Palais Garnier Grand Foyer

O Palais Garnier é um exemplo supremo do estilo Beaux-Arts, com uma mistura de barroco, renascentista e neoclássico, característico do Segundo Império.

O Grand Foyer, onde o Marquês negocia a morte de John Wick com o seu arauto (Caine), é famoso por sua ornamentação excessiva: Detalhes dourados por toda parte, pinturas em afrescos, lustres gigantes de cristal, mármores e estátuas. O teto, pintado por Paul Baudry, retrata temas mitológicos e musicais que celebram opulência e teatralidade.

Tudo isso constroem a imagem arquetípica do Marquês. A imponência do Grand Foyer reflete o paradoxo entre a sua arrogância – intenções malignas e a sua auto-imagem refinada em ser visto como um rei.

Continental de Osaka

O exterior do Osaka Continental foi filmado no National Art Center em Tóquio, um edifício projetado por Kisho Kurokawa com uma fachada de vidro ondulada e linhas minimalistas. A fachada futurista contrasta com o interior tradicional, sugerindo que o Osaka Continental é um ponto de interseção entre o passado e o presente — um tema recorrente no filme, que explora a tensão entre honra e corrupção.

Os interiores foram construídos no Internationales Congress Centrum (ICC), em Berlim, projetados para evocar um hotel japonês de luxo. A equipe de produção, liderada pelo designer Kevin Kavanaugh, usou divisórias shoji (feitas de papel translúcido), tatames, e madeira escura para criar uma atmosfera tradicional.

Jardim Externo Osaka

O jardim infelizmente não podemos visitar, foi uma criação temporária da equipe de produção e desmontado logo após as filmagens. As filmagens ocorreram próximas ao ICC – Berlim, o mesmo local onde os interiores do hotel foram gravados.

A estrutura com linhas verticais e o círculo iluminado (que parece um sol ou lua estilizado) não é parte original do ICC — foi adicionada pela equipe de produção como um elemento de design para ressaltar a estética japonesa moderna, misturando minimalismo com simbolismo.

O paisagismo foi pensado em elementos que evocasse um jardim japonês tradicional, com cerejeiras rosas e bambus artificiais, destacados pela bela iluminação complementar em cores alaranjadas e azul-esverdeada, uma “atmosfera teatral” perfeita para as coreografias de luta com espadas japonesas.

Clube Himmel und Hölle – Céu e Inferno

Um nightclub subterrâneo onde John enfrenta Killa. Filmado no Kraftwerk, uma antiga usina com uma estética industrial e caótica, o espaço tem tetos altos, vigas de aço expostas e uma cachoeira interna artificial criada pela produção. A iluminação estroboscópica em tons de verde e roxo e a música alta criam um subtexto sufocante. A arquitetura reflete a brutalidade do submundo, enquanto os elementos aquáticos e a luz pulsante transformam a luta em uma experiência sensorial.

O Arco do Triunfo

O Arco do Triunfo é um exemplo do estilo neoclássico em Paris, inspirado na arquitetura romana, construído para celebrar vitórias militares, mas adaptado para refletir o poder imperial de Napoleão.

O Marquês, sabendo que John está a caminho, envia assassinos para detê-lo, e a perseguição culmina em uma “guerra” caótica ao redor do Arco. O movimento dos carros, girando ao redor do Arco como um redemoinho, reflete a pressão implacável dos assassinos. John luta contra todas as probabilidades, emergindo das sombras do Arco como um herói lendário, o que reforça sua reputação como o “Baba Yaga”.

A Escadaria de Montmartre

A escadaria é uma metáfora poderosa para a jornada de John, cheia de desafios, quedas e perseverança. Pode ser entendida como analogia para o mito de Sísifo, que foi condenado a rolar uma pedra morro acima, apenas para vê-la cair e repetir o processo eternamente. Uma das escadarias mais famosas de Paris, que sobe a colina até a Basílica do Sacré-Cœur. Seus 222 degraus de pedra desgastados pelo tempo, confere à escadaria uma textura rústica e autêntica.  Ela é ladeada por árvores e postes de luz, à medida que se sobe, a vista de Paris se abre, com marcos como a Torre Eiffel visíveis ao longe.

Basílica do Sacré-Coeur

Ela serve como background ideal para o duelo final entre John Wick e Caine. Sua escolha da Basílica não foi apenas estética, o diretor de fotografia Dan Laustsen usou a luz do amanhecer para iluminar a Basílica, destacando sua pedra branca reluzente, criando um efeito poético. A Basílica, com sua história de penitência e sua conotação espiritual, é o cenário perfeito para o desfecho da redenção de John.

A cúpula principal é coroada por uma lanterna, e sua forma arredondada é típica do estilo bizantino. A fachada principal é ornamentada, com arcos, colunas e estátuas. Duas estátuas equestres, de Joana d’Arc e São Luís, estão posicionadas acima da entrada, simbolizando a fé e a monarquia francesa. O frontão é decorado com um mosaico do Sagrado Coração de Jesus.

Conclusão

Além da Epopéia visual que transcende as balas e pancadaria, os cenários, meticulosamente selecionados e filmados, não apenas elevam a narrativa, mas também celebram a arquitetura como uma extensão da psique dos personagens.

O filme nos ajuda e apreciar o impacto emocional da cenografia e a reconhecer o poder da arquitetura em moldar nossas percepções e sentimentos. Não é só sobre construir, é sobre tocar a alma e evocar surpresa. Os frames mais belos do filme já estão na minha pasta de referências para projetos futuros. Desde os degraus da Rue Foyatier, até a suntuosidade do Sacré-Cœur, há uma lição de design e arte além da tela que nos inspira e convida a apreciar.

Se a beleza da cenografia de John Wick: Chapter 4 também te encantou, mergulhe mais fundo no universo da arquitetura no cinema. Confira nossos outros posts sobre cenários icônicos e descubra como o design pode contar histórias tão poderosas quanto as de John Wick.

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